Hora de desaprender, uma Reflexão por Ivan Polidoro
Quando em 1995, em seu livro Competindo pelo Futuro (Editora Campus), C. K. Prahalad afirmava que é necessário “aprender e desaprender simultaneamente, porque aceitamos o novo, mas não abandonamos o antigo”, antevia, ou já sentia mesmo, que a máxima de Heráclito, que nada é permanente além da mudança iria se intensificar de tal maneira que, nos dias atuais, está muito difícil acompanhar a evolução do ambiente de negócios e do comportamento de compradores, sejam eles organizacionais ou consumidores finais.
Na verdade, parece um chavão falar de dinâmica dos negócios e do ambiente, mas o fato é que verdades antigas não têm nos ajudado muito a passar pela turbulência. Elege-se governos de ideologias diferentes, incorpora-se novas tecnologias e, apesar disso, há sempre um sentimento de que não estamos conseguindo fazer tudo quanto se deveria fazer para passarmos incólumes pelas crises ou, ao menos, para permanecermos vivos e com alguma perspectiva.
Essa angústia tem levado muitas empresas a aperfeiçoar seus processos atuais (o que também é necessário), porém sem questionar se eles ainda têm valor de fato. Busca-se certificações, estrutura-se a gestão da qualidade, implementa-se a gestão de projetos, mas pouco se questiona a validade desses processos, supondo que a simples repetição melhorada do que fizemos até agora é suficiente para enfrentar os novos desafios que o mundo dos negócios nos impõe.
Talvez a máxima de Taylor de que “sempre há uma melhor maneira de realizar um trabalho” esteja superada, pelo menos em parte. O que se exige agora é fazer diferente, não apenas fazer melhor. O melhor pode não ser suficiente porque as condições não são mais as mesmas. O mundo mudou, o cliente mudou e nossas empresas também mudaram.
Então, será que não deveríamos desaprender e começar do zero? Exercitar nossa capacidade de análise a partir da visão do nosso cliente tal como ele é hoje (tenha ele os níveis que tiver) e não do ponto de vista de um cliente que já tivemos e que não é mais o mesmo? Há ferramentas para isso. O velho e bom planejamento estratégico continua muito válido enquanto filosofia que nos conduz a projetar o que queremos ou necessitamos, mas precisa cada vez mais de diagnósticos abrangentes e técnicos. Sentar com um grupo e revisar a Matriz Swot anterior não é mais a melhor maneira de planejar. Há de se começar como se fosse a primeira vez, sem paradigmas ou premissas arraigadas e, acima de tudo, sem percepções individuais que podem ser enganosas, porquanto decorrentes de experiências vividas, a maior parte de sucesso, é bem verdade, mas fora do contexto atual.
Isso é disrupção, então? Exatamente, porém não apenas tecnológica, como tendemos a interpretá-la. Vai muito além e, me arrisco a dizer, começa pela disrupção da gestão, adotando cada vez mais técnica para validar ou modificar o feeling. É essa junção de intuição com técnica que pode nos tornar mais competitivos, mais produtivos e, de modo particular, mais orientados para o mercado. Para isso, é preciso desenvolver nossa percepção a partir do ambiente externo, e não de nossas crenças e arcabouço de conhecimento acumulado, tanto pessoal quanto empresarial. O passado já não nos ensina muito porque há um novo que não repete o velho.
Considerar essa nova realidade pode não nos levar ao sucesso pleno, mas certamente contribui para minimizar os efeitos de não fazer o certo.
Pense nisso um pouco!